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Peter Pan, 70 anos depois

Peter Pan, 70 anos depois

 

Juntamente com PinóquioDumboAladdin, O Livro da Selva Alice no País das Maravilhas, diria que Peter Pan (1953) é um dos meus clássicos animados preferidos - e um dos melhores - produzidos pela Disney. Fez definitivamente parte da minha infância, e rever certas cenas agora, aos 29 anos, transporta-me de volta no tempo. Não há como negar a influência, o impacto e a longevidade da personagem. Inicialmente uma peça de teatro da autoria do dramaturgo escocês J. M. Barrie intitulada Peter Pan, Or The Boy Who Wouldn't Grow Up (1906) e mais tarde adaptada pelo próprio num livro, Peter and Wendy (1911), a história deixou um legado considerável no meio audiovisual. Depois do clássico da Disney, não faltaram iterações do conto:

Hook (1991), uma continuação da obra de J. M. Barrie, realizada por Steven Spielberg, e com um Robin Williams a dar vida a um Peter Pan adulto que esqueceu a infância

Return to Never Land (2002), uma sequela do clássico animado

Peter Pan (2003), uma adaptação em live-action que recebeu críticas positivas, mas acabou por ser um fracasso de bilheteira

Pan (2014), uma prequela da obra de J. M. Barrie, que recebeu críticas negativas e foi mais um fracasso de bilheteira

Agora, com a nova adaptação, Peter Pan and Wendy, a estrear no Disney+, decidi revisitar o clássico animado da Disney. Primeiro, abordemos o pior: certas partes deste filme não envelheceram bem. Refiro-me, claro, à representação dos índios, o retrato mais embaraçoso de uma raça desde os corvos negros de Dumbo. E dois anos depois de Peter Pan, viriam os gatos siameses asiáticos em A Dama e o Vagabundo. Os índios são apresentados como selvagens, e a sua "diferença" é enfatizada com pérolas como "o que torna vermelho o homem vermelho?" - a sério, há toda uma canção no filme sobre isto. No entanto, os índios de Peter Pan até são uma malta fixe - o racismo é inegável, obviamente, mas as crianças britânicas admiram-nos e querem estar com eles.

Agora que já tirámos esta pedra do caminho, vamos prosseguir. A animação é incrível, assim como a música do filme. Algumas ideias da história são grandiosas: uma sombra que age por conta própria e se separa do dono, um crocodilo que engoliu um despertador cujo tiquetaque anuncia a sua chegada, um navio a voar pelos céus. São pequenas pepitas de ouro numa mina que nem sempre recompensa aqueles que a escavam. Apesar da sua curta duração de uma hora e 16 minutos, senti que o filme se arrastava e o argumento carece de algo que realmente mova a história. O enredo resume-se basicamente a isto: um rapaz rapta uma rapariga londrina para fazer de mãe do seu grupo de rapazes perdidos, depois também há um pirata a quem Pan cortou a mão e eles são rivais ou assim, uma princesa índia é raptada pelo Capitão Gancho para revelar o esconderijo de Peter Pan, e quando damos conta Wendy e os irmãos regressam a casa num navio voador que Peter Pan sequestrou do Capitão Gancho. Também há uma rápida cena com sereias que são umas cabras para Wendy sem motivo nenhum. Não há muito que ligue este guião de forma orgânica. O filme simplesmente não tem a magia de outras produções do estúdio. 

Tive de pesquisar para me certificar de que não estava sozinho na minha crença de que o Smee é gay, possivelmente a cara-metade - ou no mínimo o fuckboy - do Capitão Gancho. 

O filme tem algumas passagens e referências surpreendemente pesadas para um filme infantil, como menções a cortar gargantas e uma cena em que o Capitão Gancho baleia um marujo por estar a cantar demasiado alto. O vilão fala ainda de kneelhauling, que - pasmem - era um método comum de punição usado para castigar marujos indisciplinados, que consistia em fazê-los passar, amarrados, por baixo da quilha do navio. Isto surgiu em 1560 e continuou até 1853, quando finalmente foi abolido. Os crustáceos agarrados na parte de baixo do navio deixavam cicatrizes na pele do marujo, que serviriam de lembrança do castigo. Se perceberes inglês, o vídeo abaixo pode ajudar-te a compreender melhor (a partir do minuto 2:35 até 4:20).