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A produção amaldiçoada de "Cursed"

A produção amaldiçoada de "Cursed"

 

Aqui no MUNDO DO CINEMA, adoramos um filme com uma produção atribulada. Anteriormente, falámos de Something Wicked This Way Comes (1983), que sofreu alguns contratempos nos bastidores, mas Cursed (2005) elevou as complicações a outro nível. O filme é lendário por ter sido refilmado várias vezes, culminando numa versão final para maiores de 12 anos que não agradou propriamente a ninguém.

Cursed tinha tudo para ser um sucesso - dos mesmos realizador (Wes Craven) e escritor (Kevin Williamson) de Scream? Como é que tudo correu tão mal?

Continua a ler para saberes mais sobre o acidentado processo de produção.

 

A VERSÃO INCOMPLETA


17 março 2003 - Começam as filmagens em Los Angeles, com um orçamento de $35 milhões. Iriam durar 15 semanas. Skeet Ulrich estava no elenco, e a sua personagem chamava-se Vince.

Junho 2003 - Após 54 dias de filmagens e com 6 dias restantes para filmar o confronto final, a Dimension Films decidiu pôr o filme em espera porque os executivos não estavam felizes com o final nem com o aspeto do lobisomem. Rick Baker estava a preparar os efeitos de transformação finais quando a produção parou, e ele pediu a Weinstein para deixar a sua equipa terminar o trabalho de forma a estar pronto para as refilmagens. Weinstein recusou. O editor Patrick Lussier foi contratado para trabalhar em Cursed. Segundo ele, a Versão Incompleta tinha 90 minutos de duração, e, além do final, só lhe faltava a banda sonora e os efeitos visuais. Diz-nos Jesse Eisenberg (que interpreta Jimmy no filme): «O primeiro filme era mais interessante e provocador. Não sei porque não funcionou. (...) Filmaram 90%. Era uma coisa muito vistosa».

 

A VERSÃO REFILMADA

 

17 novembro 2003 - Recomeçam as gravações. O guião foi reescrito, transformando Ellie e Jimmy em irmãos afastados e a personagem de Vince no misterioso namorado de Ellie, Jake. Rick Baker, que criara o design original do lobisomem, deixou o projeto por causa de conflitos de agenda; o KNB EFX Group entrou a bordo para dirigir todos os novos efeitos de maquilhagem. A casa de Jimmy e Ellie foi construída no backlot dos Estúdios Universal. Esta nova versão refilmada incluía apenas 12 minutos da Versão Incompleta. Segundo Jesse Eisenberg: «A segunda versão economizou de muitas formas diferentes. E o enredo? Eu achei tão estúpido. Achei o enredo tão cliché. Tornaram-nos irmão e irmã? As coisas que mantiveram do filme original foram pequenos fragmentos. Como um carro a descer uma colina».

17 janeiro 2004 - Terminam as refilmagens. O novo final trazia Jake a implorar à namorada Ellie que o matasse para acabar com a maldição. De todas as versões do filme que foram testadas com público (exceto a Versão Incompleta, que nunca teve uma exibição-teste), esta teve a melhor avaliação. Mas a Dimension Films não estava satisfeita e exigiu uma nova. Segundo Jesse Eisenberg: «Após filmarmos a segunda versão inteira do filme, tivemos de voltar para uma terceira refilmagem que durou cerca de 20 dias. Isso é a duração de um filme independente. E depois tivemos de voltar uma quarta vez durante 10 dias e eles fizeram camisolas que diziam Cursed 4: Back for More». O novo final retratava Jake como o vilão principal, disposto a matar Ellie e Jimmy. O orçamento final do filme acabou por ficar perto de $90–100 milhões (recorde-se que inicialmente eram 35 milhões). Na rodada final de refilmagens, o ator Derek Meakers improvisou o infame manguito do lobisomem durante ensaios com Craven. Scott Nimerfro foi contratado durante as refilmagens para escrever novas cenas, incluindo uma sequência de abertura do lobisomem a saltar através do letreiro de Hollywood, que foi descartada devido a limites do orçamento. Todos os designs de Rick Baker foram cortados e a maioria dos efeitos práticos de KNB foi substituída por CGI, incluindo a transformação de Judy Greer.

Agora sim, o filme estava pronto para ser lançado nos cinemas. Certo??

Errado.

 

A VERSÃO PARA MAIORES DE 12

 

Outono 2004 - A Dimension Films decide cortar o filme para uma classificação de M/12 em vez da planeada M/16. Segundo Craven: «O contrato requeria que fizéssemos um filme para maiores de 16. Nós fizemo-lo. (...) Foram dois anos de trabalho muito difícil e quase 100 dias de filmagens de várias versões. Depois, no fim, o estúdio achou que podiam ganhar mais dinheiro com um filme para maiores de 12, e destruíram-no. Eu achei que foi uma completa falta de respeito, e também os prejudicou a eles, foi como darem um tiro no pé com uma espingarda». Uma sequência de pesadelo com a garganta de Jake a ser rasgada por Ellie foi refeita sem Craven, com Joel Soisson a servir de realizador. «Foram dois anos e meio da minha vida por um filme que não ficou nem perto do que deveria ter sido. (...) Aprendi a não fazer algo por dinheiro. Eles disseram: 'Sabemos que queres fazer outro filme, pagamos-te a dobrar.' E estávamos a 10 dias das filmagens, e eu aceitei. Trabalhei dois anos e meio pelo dobro do meu salário, mas eu podia ter feito dois filmes e meio, e feito filmes que estavam a fazer dinheiro. Acho que não vale a pena, e parte da razão para o meu telemóvel não tocar é que essa história é bastante conhecida».

No fim, será que todo o trabalho valeu a pena?

Não. Quando o filme finalmente estreou em fevereiro de 2005, foi um fracasso de bilheteira e recebeu críticas negativas, como a do San Francisco Chronicle: «Cursed é um esforço de terceira categoria, com um guião fraco, efeitos baratos e sem sustos genuínos».

É importante ressaltar que o filme tem os seus fãs e defensores, e nós aqui no MUNDO DO CINEMA consideramo-lo um guilty pleasure divertido.

09/03/2025